domingo, 16 de novembro de 2014

A SAGA DE SEVERINO E RIBAMAR - parte 2

Arte e texto: Rafael Marques
Cores e arte final: Não tem. Mas se alguém se oferecer...
Ano: 2005

#cordelcomics #rafaelmarques#diganãoaotrabalhoescravo



A SAGA DE SEVERINO E RIBAMAR - parte 1

Desenterrando antiguidades.

"DE COMO SEVERINO E RIBAMAR SE LIVRARAM DAS CORRENTES DE BELZEBU!" - parte 1 - capa. 

Arte e texto: Rafael Marques
Cores e arte final: Não tem. Mas se alguém se oferecer...
Ano: 2005

#cordelcomics #rafaelmarques#diganãoaotrabalhoescravo



quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Curta-metragem: Ilha das Flores


Para quem ainda não viu... Excelente curta de Jorge Furtado.

Para pensar o Capítalismo, o Consumo irreflexivo e aquilo que nos desumaniza.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Inversão de valores - um pouquinho de cultura pop

Quem lê Crônicas de Gelo e Fogo - ou Assiste Game of Thrones - já sabe que OBERYN MARTELL se lasca na luta contra Sor Gregor Clegane - o Montanha que cavalga.

OBERYN MARTELL é o estereótipo do herói que busca justiça. É carismático. Tem foco na Justiça. Etc.

GREGOR CLEGANE é um gigante bruto, assassino e estuprador. Vive pela sua vontade e atropela as pessoas à sua volta.

O erro de Martell foi ter assimilado a arrogância do vencedor e subestimado o monstro. Ele cantou vitória e falou demais sobre sua agenda aos demais. Quis brincar com a presa.

Toda a trama é pós-moderna. Não é algo para ser comemorado ou usado como exemplo de superação e o caralho à quatro. É subversão das clássicas tramas medievais.

Martell procurou justiça conforme as regras e se lascou, por achar que o Montanha jogava com as mesmas regras morais e éticas que ele. É um belo conto sobre o que acontece com os heróis no mundo contemporâneo, frente aos gigantes corporativos. (Viajei).

Só tem uma coisinha para aqueles que NÃO leram os livros: CLEGANE SE FERRA com o veneno do Víbora. OBERYN consegue sua vitória pós-morte, graças aos venenos que usou na lança que cortava o gigante.

CLEGANE tem um destino pior que a morte. Todo o sangue do seu corpo apodrece com o veneno e etc. Ele não morre. No final, vira um FRANKENSTEIN, um zumbi... uma marionete bizarra produzida pelo Meistre renegado lá. Só sobra o corpo. Nada de alma. Sem falar que todos os Martell agora querem um pedaço do bicho.

Moral da história: toda luta deixa cicatrizes. Às vezes é melhor morrer e perder de cabeça erguida em nome do que você acredita - sair do jogo - do que viver jogando, vitorioso, sozinho, definhando, transformado em uma mera marionete nas mãos de uma terceira pessoa, sempre com o receio de que alguém venha pela madrugada e corte a sua garganta. Quanto maior o gigante, maior é o tombo.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

CINEGRAFISTA, NÃO! REPÓRTER CINEMATOGRÁFICO. Campo jornalístico, ideologia e poder na repercussão midiática do caso Santiago Andrade

Sabemos que os Meios de Comunicação de Massa possuem um poder de influência surpreendente sobre sua audiência, com diversos níveis de gradação. Os nuances ideológicos em suas mensagens podem não ser hipnóticas e irreversíveis como pregava a Teoria Hipodérmica da Escola de Chicago, no entanto, jamais são ignoradas (WOLF, 1998).

Nesta lógica, pode-se entender que os veículos de comunicação televisivos ligados à prática jornalística possuem um papel determinante quanto à formação de opinião de um determinado público, sobre determinado assunto.

Pierre Bourdieu (1997), em seu livro Sobre a Televisão, a partir do seu conceito de Campo, delimita o campo jornalístico. Para o autor, o campo jornalístico – assim como todos os outros - é uma arena de disputa em torno de diversos capitais simbólicos. Grosso modo, o jornalista não escreve para seu público e sim para seus pares, a fim de conquistar o capital de reconhecimento e status.

Enquanto os jornalistas se “matam” em torno do reconhecimento, acabam se tornando meros instrumentos de reprodução da ideologia vigente e de seus patrões, que buscam outros capitais. A dinâmica empresarial e a lógica capitalista desenfreada torna a notícia um produto, descartável e o jornalista um mero peão. Tudo para buscar o capital dourado da televisão: a audiência – que vai se converter em finanças para as empresas de comunicação.

UMA PIRÂMIDE

A partir destas reflexões iniciais temos três fatos que se articulam como uma lógica piramidal:

1) A mídia exerce um tipo de poder e influência junto à opinião pública e na formação do senso comum;

2) A prática jornalística tem um papel fundamental neste processo. O jornalista, mais preocupado com seu mundinho – e aqui entra toda uma dinâmica de sobrevivência -, acaba servindo a um propósito que não julga ético;

3) A doce audiência, tão necessária na dinâmica televisiva, é gerada e gera dividendos, voltando ao início do processo e gerando a necessidade de poder e influência da mídia sobre a sociedade.

Esta tríade é justamente o que sustenta a repercussão midiática do recente incidente ocorrido em um protesto no Rio de Janeiro, em que um manifestante – membro de um black block – disparou um rojão que acidentalmente – ou não - levou à óbito Santiago Andrade, repórter cinematográfico  da TV Bandeirantes.



Explico: se fosse um cidadão comum, a mídia não estaria tão comovida. Como a vítima é integrante do campo midiático, do mundinho jornalístico, a questão virou pessoal.  Tudo pode ocorrer. “Se um dos meus pares for atingido, meu grupo identitário será ferido coletivamente.”

Até então, a grande mídia vivia se contradizendo em relação aos Black Blocs e às manifestações quase que diárias em nosso país. Era algo esquizofrênico: os patrões acreditam que a ordem estava sendo ferida. Já os funcionários, não acreditavam necessariamente nisso. Desta dinâmica surgiam matérias que surtiam mal-estares em toda a sociedade. Falavam uma coisa, mas queriam dizer outra.

Agora não. O discurso se alinhou. O incidente acabou por servir como combustível para aqueles que se sentem prejudicados pelas manifestações – os detentores do poder hegemônico. A opinião pública e o senso comum acabam sendo direcionados com maior competência para uma visão negativa dos protestos. Puro agendamento.

E os jornalistas que sempre apoiaram discursivamente os protestos, recuam um tanto. Uns chocados pelo fato. E outros com receio de irem contra seu grupo de pertença. É mais confortável ir com a maioria, quando a desculpa é lógica.

AGORA HÁ UM PRECEDENTE

Agora existe uma boa desculpa para que a mídia reforce a ideia de que não se devem usar máscaras durante os protestos. De que o anonimato é perigoso. De que se o fato feriu a classe jornalística, foi um golpe certeiro na democracia. É certo de que em meio a todo este caos, existem aqueles que se aproveitam para consumar seus desejos de violência reprimidos. A questão é que agora, com a mídia como escudo, a generalização é possível.

Daí que esta maquiagem de bom mocismo que justifica várias coisas, dentre elas uma caça às bruxas, favorece o sensacionalismo em cima do fato em questão. É o “calço” que faltava para sustentar o simulacro – definido por Baudrillard (1991) - que estava “balangando”, quase caindo, meio “emborcado”... É o mais puro viés ideológico: polarização do bem e do mal. Polêmica, fermento da audiência. Puro espetáculo.

E enquanto isso, as notícias sobre as vergonhosas obras da copa por todo o Brasil não possuem o destaque necessário. Milhões são desviados. Pessoas morrem no trânsito. Dinheiro do contribuinte tendo outros fins, dentre outras milhares de questões. A repercussão deste caso proporcionada pelas grandes emissoras de Televisão acaba servindo como uma forma competente de desviar a atenção e formar uma opinião “adequada” do público, de arregimentar audiência e consequentemente acumular capital financeiro.

Finalizando, é interessante analisar o quão irônico imaginar que as mais complexas situações de formação de opinião repercutem a partir sentenças simples, inocentes. “Cinegrafista, não. Câmera Man, não. Repórter cinematográfico é o correto.” Tal frase, repetida centenas de vezes nas redes sociais e entre os jornalistas em seu cotidiano reforçou de forma propagandista a ideia de negar que Santiago Andrade não pertencia ao grupo.

Se palavras são fortes, o simbólico imagético mais ainda. À vítima resta a glória pós-morte de ser um mártir da comunicação. Para a tristeza e indignação dos jornalistas e comunicadores. Para o constrangimento da sociedade. E para a alegria dos membros do pequeno e seleto grupo que detém o poder em nosso país.

REFERÊNCIAS

BAUDRILLARD, J. Simulacros e simulação. São Paulo: Ed. Relógio D’agua. 1991.
WOLF, M. Teorias da comunicação. Lisboa: Editorial Presença. 1987.
BOURDIEU, P. Sobre a Televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

SR. CARLOS E A CRIATIVIDADE DA PUBLICIDADE INFORMAL E POPULAR EM CUIABÁ: INDÍCIOS FOLKCOMUNICACIONAIS?

Estava no centro da cidade e estava voltando para casa, após mais uma jornada diária. Fui ao ponto de ônibus e começo a escutar alguém cantando de forma empolgada e apaixonada, com uma pegada um tanto quanto Nordestina, mas com um quê de cuiabanidade. 

Estava achando estranho, pois havia uma mulher muito doida rebolando mais que a Carla Peres no embalo do som. Aí fui achando tudo cada vez mais divertido e não me aguentei: corri para ver quem era o cantor, já com a câmera do celular no "jeito". 



A figura no vídeo é o Sr. Carlos, vendedor ambulante e artista popular que atua na Avenida da Prainha, no centro de Cuiabá-MT. 

Um ator da cultura do cotidiano, cujas marcas culturais híbridas expressas pela musicalidade - que re-significam a publicidade e o conceito de consumo - estão inscritas no urbano e que passa despercebido por muitos. 

Trabalha no centro de Cuiabá a mais de 08 anos, sempre com e um de seus sonhos é montar uma banda e gravar um cd.

Se puderem, dêem uma passadinha em seu ponto de trabalho. É no ponto de ônibus da Avenida Generoso Ponce com a Av. Tenente Coronel Duarte (prainha), no sentido centro-porto. Confiram suas cocadas, pé de moleques, refrigerantes, dentre outros produtos. Ah, e sua famosa água mineral.

Acho que tem Folkcomunicação aí neste lance, já que ele media inúmeros elementos em suas canções. Neste sentido, creio que é um líder Folk. Mas é apenas um chute.

A VIDA É SIMPLES. A GENTE É QUE COMPLICA TUDO

Cada um tem exatamente o que merece. Tudo repercute. 

Até o mais simples gesto ou ação. Causa e efeito.

Vivemos entre os nós de uma complexa rede. Não somos uma ilha. Jamais ignorados. Para o bem ou para o mal. 

Tem coisas que dizemos e são entendidas ao pé da letra. 

Tem coisas que precisamos falar, mas não temos coragem.

Tem coisas que pronunciamos, mas ninguém escuta.

Tem coisas que afirmamos e não são compreendidas.

Tem coisas que não falamos e, no entanto, nossa autoria a elas é atribuída.

Tem coisas que declaramos, e outros assumem como suas.

Tem coisas que proferimos, das quais não nos orgulhamos. A tais palavras desejamos o caminho do esquecimento.

Porque vivemos na representação de outrem. Somos seres sociais, da palavra, do simbólico.

Pessoas simplesmente gostam da gente. Ou não gostam. E mil outros tons cinzentos.

Eu acerto. Eu erro. Ele acerta. Ele erra. Nós acertamos. Nós erramos. Nós humanos.

O negócio é aceitar a si mesmo e o fluxo das coisas. É menos desgastante e oneroso.

As pessoas tem o que merecem. E desempenham o papel que devem desempenhar.
Você está exatamente onde merece estar. Ou seja, em órbita.

E o universo só vai conspirar ao seu favor se você conspirar a favor das pessoas à sua volta. Tal é a dinâmica gravitacional social.

Cada um em sua rota. Ou fora dela. Passando perto ou longe. Em um mesmo sistema.

É assim. Meio funcionalista, não? Mas muito humanista.

(quem sabe continua... ou não.)

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Algumas reflexões sobre este tal de rolezinho

Li muita coisa sobre os tais "rolezinhos". Muitas pessoas colocaram sua visão sobre o caso. Como professor de Teorias da Comunicação, eu ainda não havia feito uma leitura adequada. Acredito que o mais importante sobre estes eventos não é o ato em si, mas os desdobramentos nos campos da opinião e representação.


Primeiro, o que é este tal de rolezinho? Vamos definir. É um termo que estão usando largamente para definir um agrupamento de jovens que se articulam via web, para "causar" no shopping. Segundo a wikipédia:

"[...] Rolezinho (diminutivo de 'rolê' ou 'rolé', em linguagem informal brasileira, significa "fazer um pequeno passeio" ou "dar uma volta" 1 ) é um neologismo para definir um tipo de flash mob ou coordenação de encontros simultâneos de centenas de pessoas em locais como praças e parques públicos e shoppings. Os encontros são marcados pela internet, quase sempre por meio de redes sociais como o Facebook. Os rolezinhos vem ganhando destaque no noticiário brasileiro devido a delitos cometidos por alguns participantes, como tumultos, furtos e agressões."

Ou seja, não é só um passeio no Shopping. 

Temos muitas perspectivas. Estas vão variar conforme a tendência teórica de um ou outro autor. Acredito que tais comentários podem ser divididos em três grandes grupos:

1) Existem aqueles que desmerecem, usam a chacota para afirmar que os tais rolezinhos são compostos por uma massa jovem ignorante, fruto de uma gestão governamental inoperante. Aí entra preconceito nas mais diversas formas, para justificar - e alarmar - o desnível funcionalista em nossa sociedade atual. Estes não estão errados na raiz da questão, uma vez que tem toda uma questão referente à propriedade privada e criminalidade embutida nos tais rolezinhos. É consequência do empoderamento das mais diversas camadas sociais, proporcionado pelos meandros da internet;

2) Tem aqueles que entendem o processo à partir de uma visão sobre a luta de classes. O viés político. E dão destaque à truculência policial e ao direito de ir e vir. Estes TAMBÉM não estão errados. Os rolezinhos tem fator político - mesmo que não seja intencional e é sintoma de uma sociedade desigual, que oferece o consumo à massa, mas não a inclui por inteiro;

3) E aqueles que amarram estas "manifestações" a uma leitura cultural do processo. Uma conjunção de significados, identidades, contextos que se articulam em fluxos disformes e imprevisíveis, que acabam por se cristalizar no ato em si. Este é o menor agrupamento dentre os detectados, pois não polemiza. Tenta não ideologizar. Ligada á lógica do consumo, que também está correta. 

Ou seja, todo mundo está certo. Só que não. Como assim? Enquanto ocorrem embates para provar que cada ponto de vista está certo, outros processos ocorrem paralelamente em nossa sociedade. Silenciosamente.

Organizando as idéias, podemos dizer que os grupos 1 e 2 se polarizam, em um confronto simbólico dentro de um CAMPO permeado pelas relações de PODER, levando a discussão a um nível BLACK and WHITE, sem tons de cinza. Um processo embebido em massificação e paixão. Ou seja, o mesmo processo imanente aos sentimentos das torcidas em confrontos futebolísticos. Entretenimento?

É o mesmo processo utilizado largamente pela grande mídia de massa para desviar o assunto de outra questão polêmica que está rolando no campo da política.

Ou seja, é possível que o assunto ganhou mais relevância do que deveria, porque alguém está lucrando com isso.

Considerando que: a) Janeiro é um mês praticamente vazio de pautas significantes - é batata, podem conferir b) Copa do mundo já está aí, permeada por processos obscuros c) ano eleitoral...

Existem outras variáveis. Mas acredito que todas elas apontam para a lógica do AGENDA SETTING. Ou seja, a mídia pauta a sociedade. Metaforicamente usa uma lupa para ampliar algum fato dentro da sociedade, fazendo que este se sobressaia a outros. 

É meio que uma forma que guiar a opinião pública. Não é manipular. É guiar mesmo. Decidindo o que a sociedade vai discutir, certos grupos não precisam se preocupar com o teor da polêmica.

Então:

1) Os tais rolezinhos dariam um bom tema para pesquisa sociológica ou antropológica, enquanto visão cultural;

2) Quando arbitrariamente se politiza em excesso estas manifestações, elas perdem sua função e morrem no nascedouro. Praticamente anulam o potencial de resistência dos rolezinhos. É um ato estéril, que morre em si. Neste sentido, o rolézinho "artificial" de Cuiabá-MT, mobilizado por grupos políticos, é tudo menos de "resistência". O que não quer dizer que não é interessante. Mas não é o mesmo fenômeno que acontece em São Paulo. Nesta linha, a tal "guerra de gangues" que ocorreu no Shopping Pantanal é mais próxima da idéia original. Mas a mídia cuiabana - com exceções - tratou de rotular e vilanizar o ato rapidinho para não "viralizar" a idéia. 

3) Porque agendar? Quem está lucrando, se existe mesmo este agendamento? O que este agendamento está encobrindo? 

Creio que ao final destas linhas, é possível chegar a algumas hipóteses que possam responder a estas perguntas. Não falo agora as minhas. Mas imagino que o leitor deva supor quais elas são.

#comentem